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"É como se eu voltasse a andar", diz brasileiro medalhista Mundial de paraciclismo em Zurique
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A Seleção Brasileira de ciclismo fez história no campeonato Mundial de ciclismo paralímpico que termina neste domingo (29), em Zurique, na Suíça. O Brasil conquistou diversos pódios, entre eles, as duas primeiras medalhas para o país na classe handbike masculina. A RFI Brasil conversou com um dos medalhistas para analisar esse bom desempenho da equipe.
Maria Paula Carvalho, da RFI em Paris
O Brasil é representado na competição, que começou no sábado (21), por 18 atletas com deficiência física ou visual e uma atleta piloto.
As duas medalhas inéditas na prova de handbike, as bicicletas impulsionadas pelas mãos, são a realização de um sonho para Marcos Mello Júnior, mineiro de Nova Lima, que ficou com o bronze no circuito de estrada e a prata no contrarrelógio. "Essa medalha é muito especial para mim, porque faz oito anos que eu estou no paraciclismo", disse. "Para o paraciclismo brasileiro foi um marco, porque foi a primeira vez que um atleta da categoria H, dos handbikes, ganha uma medalha fora do Brasil, principalmente num campeonato tão importante. Então, acho que tanto para mim quanto para o paraciclismo, foi uma medalha bastante importante", avalia.
Marcos ficou em segundo lugar na prova de contrarrelógio, com tempo de 38min35s40, atrás do italiano Fabrizio Cornegliani, que chegou com pouco mais de 2min de avanço. ''É difícil dizer se foi o meu melhor tempo, porque os circuitos das provas mudam de cidade para cidade e depende da inclinação do terreno, se está ventando, se está chovendo", explica. "A minha participação foi muito boa, não só pelo resultado, mas por tudo o que acontece durante uma competição. As conversas com os outros atletas, o desenvolvimento pessoal que é muito importante também, nessa relação interpessoal com todos do grupo. Isso é primordial", comemora.
Marcos entrou no paraciclismo através do convite de um amigo que já praticava. "Eu tomei coragem, comprei um equipamento de iniciante, bem inferior ao equipamento que eu uso hoje, que é um equipamento bastante competitivo", diz. "A minha deficiência é tetraplegia. Então, eu tenho movimento dos braços, mas eu não movimento a mão e o movimento dos braços é movimento bastante limitado por causa da tetraplegia", observa.
Autonomia
O paraciclismo é dividido em 13 classes para homens e para mulheres, de acordo com a natureza da deficiência do atleta, especialmente no que diz respeito a escolha da bicicleta. As regras são idênticas às do ciclismo tradicional.
Marcos destaca a autonomia proporcionada por este esporte. "Para quem não está habituado, não conhece o paraciclismo, eu gosto de falar que o paraciclismo é como se eu voltasse a andar novamente porque ele me dá uma autonomia de ir para lugares mais distantes, numa velocidade muito maior do que eu iria com a minha cadeira de rodas, por exemplo", compara.
"É claro que vai depender de uma força física boa se você quiser ir mais rápido. Mas ainda assim, uma pessoa pouco treinada consegue se divertir bastante com o paraciclismo. E é interessante que a posição que a gente fica na bicicleta, que é uma posição semideitado, passa muito próximo do chão e dá uma sensação de velocidade indescritível", relata.
O mais difícil, ele diz, é encontrar equipamentos adaptados à sua necessidade. "O mais complicado da minha categoria é que as adaptações nas bicicletas são muito pessoais e difíceis. Então, nem sempre você vai achar uma adaptação no mercado, alguém que já fez para aquilo que você precisa, porque vai depender muito da sua deficiência e o tanto que ela te atrapalha no esporte", continua. "Mas é bem desafiador fazer uma adaptação para você e depois ver que a adaptação ficou excelente e que você consegue ótimos resultados com aquilo que criou, de acordo com a sua deficiência, de acordo com a sua dificuldade em estar praticando o esporte", acrescenta.
Investimento e apoio
Marcos diz que o investimento inicial foi todo dele, "assim como é o caso de todos os atletas, pois são raras as associações que têm alguma bicicleta para as pessoas conhecerem e começarem", lamenta. "O patrocínio é bem difícil, eu não tenho. O apoio que eu recebo é do Bolsa Atleta, um programa federal que ajuda os atletas que ficam até a terceira posição em um campeonato mundial, campeonato estadual ou municipal", observa. "Quando a gente se inscreve numa competição, a própria Confederação de ciclismo consegue a estadia e não pagamos a inscrição da prova. Essa ajuda de custo é bastante importante, porque a gente consegue diminuir os gastos e participar de mais competições ao longo do ano e não é uma realidade em outras modalidades, que você tem que ter verba para tudo isso", reconhece.
Treinamento
O treinamento no paraciclismo depende dos ciclos de competições. "As minhas planilhas de treinos variam de 30 minutos a até 3 horas por dia quando está chegando muito perto das competições", diz o atleta sobre a rotina no esporte. "O treinamento é uma das coisas importantes que a gente não pode relaxar de jeito nenhum, tem que estar sempre em dia, porque os nossos adversários estão sempre treinando e querendo chegar à frente", completa.
Fim de um ciclo paralímpico
O Campeonato Mundial de Zurique encerra a temporada de competições internacionais e o ciclo paralímpico, explica Edilson Rocha, o Tubiba, Coordenador de Paraciclismo da Confederação Brasileira de ciclismo. "Na terça feira (1), dois dias após o término da competição, o ranking é atualizado e a gente vai fazer o levantamento de posições do ranking, quantas posições a gente ganhou, quantos atletas a gente tem no top 3, no top 4 e 5 e vai avaliando o que a gente precisa evoluir, como a gente vai crescer ainda mais", explica.
Apesar do apoio do Comitê Paralímpico Brasileiro e do Ministério do Esporte, ele diz que é muito difícil para o país alcançar o mesmo patamar no ciclismo do que outros onde o esporte está consolidado e tem mais visibilidade. Citando as conquistas nos Jogos Paralímpicos de Paris 2024, ele aponta a meta do Brasil. "A Holanda conquistou 56 medalhas nos Jogos, 27 de ouro. 16 dessas medalhas vieram do ciclismo, dez de ouro do ciclismo, ou seja, 25% das medalhas da Holanda vieram do ciclismo e 37% das medalhas de ouro da Holanda vieram de ciclismo. Então, o ciclismo foi fundamental para a Holanda ficar em quarto lugar à frente do Brasil", calcula. "Então, se a gente conseguir melhorar a nossa modalidade e fazer com que o Brasil divida essas medalhas com essas potências, certamente a gente vai crescer ainda mais", aposta.
A Seleção Brasileira espera poder contar com a construção de um novo velódromo dentro do Centro de Treinamento Paralímpico, em São Paulo. "A gente vai ter a construção do nosso velódromo e vai poder desenvolver um trabalho muito bom. Outros exemplos: a Grã-Bretanha teve 22 medalhas no ciclismo. A Austrália, 11 medalhas no ciclismo, A França, 26 medalhas no ciclismo, 52% das medalhas de ouro da França vieram do ciclismo, ou seja, mais da metade das medalhas de ouro que a França, que era sede dos Jogos Paralímpicos, conquistou vieram de uma única modalidade, que é o ciclismo", aponta. "Eu acho que esse campeonato mundial ajuda a trazer também um pouco de luz pelos bons resultados que a gente está tendo, além dos Jogos de Paris. E aí a gente pretende desenvolver um projeto e crescer cada vez mais para que o Brasil se consolide como uma potência no paraciclismo e se mantenha dentro do top cinco ou chegue no top três do quadro geral de medalhas em Jogos Paralímpicos", espera.
Nos Jogos Paralímpicos Paris 2024, o Brasil teve seis atletas no paraciclismo e não conquistou medalhas.
Outras medalhas em Zurique
A modalidade é mais uma prova de que pessoas com deficiência podem ter altíssimo rendimento no esporte. Até a última quinta-feira, o país já tinha conquistado sete pódios no mundial de Zurique.
Na quinta-feira (25), nas competições de estrada, Jady Malavazzi foi ouro na classe H3 feminino, enquanto Gilmara Rosário ficou com o bronze na classe H2.
A paulista Gilmara Sol do Rosário já tinha conquistado uma medalha de bronze na prova contrarrelógio, com tempo de 28min,50s16, atrás da americana Katie Brim e da italiana Roberta Amadeo.
Na classe C5 masculino (atletas que competem em bicicletas convencionais), Lauro Chaman ficou com o bronze na estrada. O paulista já tinha conquistado a prata na prova contrarrelógio, confirmando ser o maior medalhista do paraciclismo brasileiro, com mais de 50 medalhas em eventos oficiais.
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A Seleção Brasileira de ciclismo fez história no campeonato Mundial de ciclismo paralímpico que termina neste domingo (29), em Zurique, na Suíça. O Brasil conquistou diversos pódios, entre eles, as duas primeiras medalhas para o país na classe handbike masculina. A RFI Brasil conversou com um dos medalhistas para analisar esse bom desempenho da equipe.
Maria Paula Carvalho, da RFI em Paris
O Brasil é representado na competição, que começou no sábado (21), por 18 atletas com deficiência física ou visual e uma atleta piloto.
As duas medalhas inéditas na prova de handbike, as bicicletas impulsionadas pelas mãos, são a realização de um sonho para Marcos Mello Júnior, mineiro de Nova Lima, que ficou com o bronze no circuito de estrada e a prata no contrarrelógio. "Essa medalha é muito especial para mim, porque faz oito anos que eu estou no paraciclismo", disse. "Para o paraciclismo brasileiro foi um marco, porque foi a primeira vez que um atleta da categoria H, dos handbikes, ganha uma medalha fora do Brasil, principalmente num campeonato tão importante. Então, acho que tanto para mim quanto para o paraciclismo, foi uma medalha bastante importante", avalia.
Marcos ficou em segundo lugar na prova de contrarrelógio, com tempo de 38min35s40, atrás do italiano Fabrizio Cornegliani, que chegou com pouco mais de 2min de avanço. ''É difícil dizer se foi o meu melhor tempo, porque os circuitos das provas mudam de cidade para cidade e depende da inclinação do terreno, se está ventando, se está chovendo", explica. "A minha participação foi muito boa, não só pelo resultado, mas por tudo o que acontece durante uma competição. As conversas com os outros atletas, o desenvolvimento pessoal que é muito importante também, nessa relação interpessoal com todos do grupo. Isso é primordial", comemora.
Marcos entrou no paraciclismo através do convite de um amigo que já praticava. "Eu tomei coragem, comprei um equipamento de iniciante, bem inferior ao equipamento que eu uso hoje, que é um equipamento bastante competitivo", diz. "A minha deficiência é tetraplegia. Então, eu tenho movimento dos braços, mas eu não movimento a mão e o movimento dos braços é movimento bastante limitado por causa da tetraplegia", observa.
Autonomia
O paraciclismo é dividido em 13 classes para homens e para mulheres, de acordo com a natureza da deficiência do atleta, especialmente no que diz respeito a escolha da bicicleta. As regras são idênticas às do ciclismo tradicional.
Marcos destaca a autonomia proporcionada por este esporte. "Para quem não está habituado, não conhece o paraciclismo, eu gosto de falar que o paraciclismo é como se eu voltasse a andar novamente porque ele me dá uma autonomia de ir para lugares mais distantes, numa velocidade muito maior do que eu iria com a minha cadeira de rodas, por exemplo", compara.
"É claro que vai depender de uma força física boa se você quiser ir mais rápido. Mas ainda assim, uma pessoa pouco treinada consegue se divertir bastante com o paraciclismo. E é interessante que a posição que a gente fica na bicicleta, que é uma posição semideitado, passa muito próximo do chão e dá uma sensação de velocidade indescritível", relata.
O mais difícil, ele diz, é encontrar equipamentos adaptados à sua necessidade. "O mais complicado da minha categoria é que as adaptações nas bicicletas são muito pessoais e difíceis. Então, nem sempre você vai achar uma adaptação no mercado, alguém que já fez para aquilo que você precisa, porque vai depender muito da sua deficiência e o tanto que ela te atrapalha no esporte", continua. "Mas é bem desafiador fazer uma adaptação para você e depois ver que a adaptação ficou excelente e que você consegue ótimos resultados com aquilo que criou, de acordo com a sua deficiência, de acordo com a sua dificuldade em estar praticando o esporte", acrescenta.
Investimento e apoio
Marcos diz que o investimento inicial foi todo dele, "assim como é o caso de todos os atletas, pois são raras as associações que têm alguma bicicleta para as pessoas conhecerem e começarem", lamenta. "O patrocínio é bem difícil, eu não tenho. O apoio que eu recebo é do Bolsa Atleta, um programa federal que ajuda os atletas que ficam até a terceira posição em um campeonato mundial, campeonato estadual ou municipal", observa. "Quando a gente se inscreve numa competição, a própria Confederação de ciclismo consegue a estadia e não pagamos a inscrição da prova. Essa ajuda de custo é bastante importante, porque a gente consegue diminuir os gastos e participar de mais competições ao longo do ano e não é uma realidade em outras modalidades, que você tem que ter verba para tudo isso", reconhece.
Treinamento
O treinamento no paraciclismo depende dos ciclos de competições. "As minhas planilhas de treinos variam de 30 minutos a até 3 horas por dia quando está chegando muito perto das competições", diz o atleta sobre a rotina no esporte. "O treinamento é uma das coisas importantes que a gente não pode relaxar de jeito nenhum, tem que estar sempre em dia, porque os nossos adversários estão sempre treinando e querendo chegar à frente", completa.
Fim de um ciclo paralímpico
O Campeonato Mundial de Zurique encerra a temporada de competições internacionais e o ciclo paralímpico, explica Edilson Rocha, o Tubiba, Coordenador de Paraciclismo da Confederação Brasileira de ciclismo. "Na terça feira (1), dois dias após o término da competição, o ranking é atualizado e a gente vai fazer o levantamento de posições do ranking, quantas posições a gente ganhou, quantos atletas a gente tem no top 3, no top 4 e 5 e vai avaliando o que a gente precisa evoluir, como a gente vai crescer ainda mais", explica.
Apesar do apoio do Comitê Paralímpico Brasileiro e do Ministério do Esporte, ele diz que é muito difícil para o país alcançar o mesmo patamar no ciclismo do que outros onde o esporte está consolidado e tem mais visibilidade. Citando as conquistas nos Jogos Paralímpicos de Paris 2024, ele aponta a meta do Brasil. "A Holanda conquistou 56 medalhas nos Jogos, 27 de ouro. 16 dessas medalhas vieram do ciclismo, dez de ouro do ciclismo, ou seja, 25% das medalhas da Holanda vieram do ciclismo e 37% das medalhas de ouro da Holanda vieram de ciclismo. Então, o ciclismo foi fundamental para a Holanda ficar em quarto lugar à frente do Brasil", calcula. "Então, se a gente conseguir melhorar a nossa modalidade e fazer com que o Brasil divida essas medalhas com essas potências, certamente a gente vai crescer ainda mais", aposta.
A Seleção Brasileira espera poder contar com a construção de um novo velódromo dentro do Centro de Treinamento Paralímpico, em São Paulo. "A gente vai ter a construção do nosso velódromo e vai poder desenvolver um trabalho muito bom. Outros exemplos: a Grã-Bretanha teve 22 medalhas no ciclismo. A Austrália, 11 medalhas no ciclismo, A França, 26 medalhas no ciclismo, 52% das medalhas de ouro da França vieram do ciclismo, ou seja, mais da metade das medalhas de ouro que a França, que era sede dos Jogos Paralímpicos, conquistou vieram de uma única modalidade, que é o ciclismo", aponta. "Eu acho que esse campeonato mundial ajuda a trazer também um pouco de luz pelos bons resultados que a gente está tendo, além dos Jogos de Paris. E aí a gente pretende desenvolver um projeto e crescer cada vez mais para que o Brasil se consolide como uma potência no paraciclismo e se mantenha dentro do top cinco ou chegue no top três do quadro geral de medalhas em Jogos Paralímpicos", espera.
Nos Jogos Paralímpicos Paris 2024, o Brasil teve seis atletas no paraciclismo e não conquistou medalhas.
Outras medalhas em Zurique
A modalidade é mais uma prova de que pessoas com deficiência podem ter altíssimo rendimento no esporte. Até a última quinta-feira, o país já tinha conquistado sete pódios no mundial de Zurique.
Na quinta-feira (25), nas competições de estrada, Jady Malavazzi foi ouro na classe H3 feminino, enquanto Gilmara Rosário ficou com o bronze na classe H2.
A paulista Gilmara Sol do Rosário já tinha conquistado uma medalha de bronze na prova contrarrelógio, com tempo de 28min,50s16, atrás da americana Katie Brim e da italiana Roberta Amadeo.
Na classe C5 masculino (atletas que competem em bicicletas convencionais), Lauro Chaman ficou com o bronze na estrada. O paulista já tinha conquistado a prata na prova contrarrelógio, confirmando ser o maior medalhista do paraciclismo brasileiro, com mais de 50 medalhas em eventos oficiais.
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