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A um mês da abertura das Olimpíadas, tensão política na França ofusca preparação dos Jogos

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A menos de um mês do início dos Jogos Olímpicos Paris 2024, a França vive um período de intensa ebulição política, com a realização de eleições legislativas antecipadas em dois turnos eleitorais que acontecem nos dias 30 de junho e 7 de julho. Isso pode levar a uma mudança radical de governo – e dos responsáveis políticos à frente da organização dos Jogos. Como se não bastasse, há outras questões complexas em curso, como a segurança – principalmente diante da ameaça de atentados – e se o rio Sena terá condições de ser palco da cerimônia de abertura e de algumas provas aquáticas.

Patrícia Moribe, de Paris

O pleito antecipado pegou os franceses de surpresa. O presidente Emmanuel Macron optou pela dissolução da Assembleia Nacional após a derrota do partido governista nas eleições europeias, quando a extrema direita teve resultado triunfante (quase 40% dos votos, deixando o partido macronista em terceiro lugar, após os socialistas).

Macron fez uma aposta arriscada – e muito criticada por aliados - antes do evento olímpico que começa em 26 de julho, uma situação sem precedentes segundo os especialistas. Ou seja, os resultados das eleições legislativas prometem ter consequências de porte, como talvez, um novo primeiro-ministro de extrema direita – ou de esquerda – que certamente vai fazer parte da tribuna olímpica de Paris 2024.

A crise política surge também em um momento em que os franceses começavam a se interessar pelos Jogos, após a chegada da chama olímpica, no dia 8 de maio, a Marselha. O presidente do Comitê Organizador dos Jogos, Tony Estanguet, tentou tranquilizar a todos, garantindo que "as principais decisões" já foram tomadas, embora a política monopolize a atenção midiática.

O que mais preocupa os organizadores de Paris-2024 é a situação na França após as eleições. "Se no dia 8 de julho for Bardella (o vencedor), haverá uma grande movimentação", reconheceram fontes políticas à AFP, referindo-se ao braço direito de Marine Le Pen, Jordan Bardella, a quem Macron seria quase obrigado a nomear primeiro-ministro se vencer em 7 de julho. Segundo essas fontes, há dúvidas se o ministro do Interior Gérald Darmanin, que preparou o dispositivo de segurança para o Paris-2024, continuará no cargo.

Embora o presidente do Comitê Olímpico Internacional (COI), Thomas Bach, tenha garantido que as eleições "não perturbarão os Jogos", a votação já roubou espaço do evento na mídia, inclusive internacional. Candidato ao cargo de primeiro-ministro, o líder do partido de extrema direita Reunião Nacional (RN), Jordan Bardella, garantiu que nada mudará na organização dos Jogos se vencer as eleições.

"Não há razão para os Jogos correrem mal com um governo do RN", disse Guy Drut, ex-ministro francês dos Esportes e atual membro do COI. Ele lembrou que os Jogos de Munique, em 1972, continuaram apesar do ataque sangrento de um comando palestino contra a delegação israelense.

As declarações de Drut, classificadas pelo COI como opinião pessoal, suscitaram críticas da organização do Paris-2024 e da ministra do Esporte Amélie Oudéa-Castéra, que pode não estar no cargo em 26 de julho, na cerimônia de abertura.

"A dissolução em si não afeta a preparação dos jogos", declarou a ministra em entrevista à France 2 nesta quarta-feira. "Estou completamente concentrada no trabalho com todas as equipes. Estamos totalmente mobilizados, então isso não afeta a preparação. E depois, quem será eleito? Pode haver um risco para a realização dos jogos com pessoas sem experiência no governo, quando serão necessárias habilidades de liderança e comando", ponderou.

“E, mais importante, qual mensagem queremos enviar ao mundo?", acrescentou Oudéa-Castéra. "Nosso país que reinventou os jogos da era moderna, que melhor do que qualquer outro defendeu valores de universalismo, amizade entre os povos, abertura. Que imagem vamos transmitir? Uma imagem de menos universalismo, mais comunitarismo, menos abertura, mais fechamento, xenofobia, audácia ou relegação? É isso que devemos escolher hoje."

Segurança

A questão da segurança durante os Jogos fica ainda mais sensível por causa das eleições antecipadas. "Haverá muitas situações para as quais deveremos nos mobilizar se o RN vencer", reconheceu uma fonte policial, que teme por distúrbios urbanos. As manifestações pró e contra a extrema direita acontecem desde as eleições europeias e devem se intensificar nas próximas semanas em toda a França.

Uma das questões-chave que paira no ar é a respeito da segurança, principalmente em relação a atentados, isso em uma cidade traumatizada por uma onda de ataques em 2015.

“Estamos prontos. Estamos até ansiosos para que os Jogos comecem. Todos os dispositivos de segurança dos locais da cerimônia, dispositivos de luta contra a delinquência, proteção dos locais turísticos, está tudo pronto”, garantiu Laurent Nuñez, secretário de Segurança Pública, em entrevista nesta quarta-feira (26), à rádio France Inter.

“Muitos países ocidentais são alvos da propaganda, especialmente do Estado Islâmico, obviamente. E a França também é particularmente visada”, disse Nuñez. “Os Jogos Olímpicos apareceram em várias propagandas que incentivavam ações terroristas no território nacional. Então, como repetiu o ministro do Interior, estamos obviamente muito atentos a essa ameaça. Além disso, estamos em plano de alerta terrorista, com foco em atentados, e não é por acaso”, acrescentou.

Nuñez falou ainda sobre o risco de ataques cibernéticos durante os Jogos. “Esse risco é real porque nos Jogos Olímpicos anteriores houve um número impressionante de ataques”, disse. “Há certos Estados que realizam ataques cibernéticos, seja diretamente, seja usando grupos de cibercriminosos para interferência. Estamos nos preparando para isso. Todo serviço, começando pelo Ministério do Interior, pela polícia, está reforçando nossos sistemas de informação, melhorando a segurança. Há todo um trabalho que vem sendo realizado nos últimos anos para enfrentar isso.”

Sena

Outra questão em suspenso às vésperas dos Jogos é sobre a salubridade e estabilidade do rio Sena, onde estão previstas a cerimônia de abertura e provas olímpicas. A alta vazão, decorrente de uma temporada de chuvas, levou ao adiamento de um ensaio da cerimônia de abertura, que estava previsto para segunda-feira.

"Não temos condições meteorológicas muito normais há seis meses", lembrou Marc Guillaume, responsável regional de Île-de-France (Paris e arredores), destacando que o projeto de tornar o Sena propício para banhos, em prática há quase dez anos, com um investimento de € 1,4 bilhão, "não é suficiente se o clima for de outono ou inverno". O prefeito da região pretende nadar no rio Sena para dar o exemplo, "no dia em que for possível".

A prefeita de Paris, Anne Hidalgo, que adiou seu mergulho prometido e aguardado no Sena, devido ao mau tempo e às eleições legislativas antecipadas, planeja se banhar na semana do dia 15 de julho "ou na semana seguinte", a da cerimônia de abertura.

Em uma entrevista ao jornal Ouest-France nesta quarta-feira, ela se disse "muito confiante" na chegada de um clima favorável a tempo para os Jogos Olímpicos.

O suspense continua sobre a realização das provas olímpicas desde os "eventos-testes" de agosto de 2023, que tiveram que ser amplamente cancelados devido à qualidade insuficiente da água.

Em caso de chuvas intensas, água não tratada - uma mistura de chuva e esgoto - pode ser despejada no rio, um fenômeno que as obras de retenção inauguradas pouco antes dos Jogos visam impedir.

O plano "B" consiste em adiar as provas por alguns dias, mas não mudar de local, segundo o comitê organizador.

Atletismo

Já em terra firme, isto é, no Stade de France, onde vão acontecer as provas de atletismo, as preparações também seguem seu curso.

"O Stade de France está acostumado a lidar com um grande número de pessoas, então não precisamos testar isso. Precisamos realmente testar as operações do pessoal, das equipes que trabalharam muito pouco juntas, a coordenação com os juízes - temos cerca de 200 juízes. Teremos ainda 350 voluntários no estádio apenas para a parte esportiva, então é importante ver como eles se adaptam ao estádio, trabalhar com eles e ajudá-los a se sentir à vontade aqui", explica Alain Blondel, responsável pelas provas de atletismo e para-atletismo do comitê organizador.

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Patrícia Moribe, de Paris

O pleito antecipado pegou os franceses de surpresa. O presidente Emmanuel Macron optou pela dissolução da Assembleia Nacional após a derrota do partido governista nas eleições europeias, quando a extrema direita teve resultado triunfante (quase 40% dos votos, deixando o partido macronista em terceiro lugar, após os socialistas).

Macron fez uma aposta arriscada – e muito criticada por aliados - antes do evento olímpico que começa em 26 de julho, uma situação sem precedentes segundo os especialistas. Ou seja, os resultados das eleições legislativas prometem ter consequências de porte, como talvez, um novo primeiro-ministro de extrema direita – ou de esquerda – que certamente vai fazer parte da tribuna olímpica de Paris 2024.

A crise política surge também em um momento em que os franceses começavam a se interessar pelos Jogos, após a chegada da chama olímpica, no dia 8 de maio, a Marselha. O presidente do Comitê Organizador dos Jogos, Tony Estanguet, tentou tranquilizar a todos, garantindo que "as principais decisões" já foram tomadas, embora a política monopolize a atenção midiática.

O que mais preocupa os organizadores de Paris-2024 é a situação na França após as eleições. "Se no dia 8 de julho for Bardella (o vencedor), haverá uma grande movimentação", reconheceram fontes políticas à AFP, referindo-se ao braço direito de Marine Le Pen, Jordan Bardella, a quem Macron seria quase obrigado a nomear primeiro-ministro se vencer em 7 de julho. Segundo essas fontes, há dúvidas se o ministro do Interior Gérald Darmanin, que preparou o dispositivo de segurança para o Paris-2024, continuará no cargo.

Embora o presidente do Comitê Olímpico Internacional (COI), Thomas Bach, tenha garantido que as eleições "não perturbarão os Jogos", a votação já roubou espaço do evento na mídia, inclusive internacional. Candidato ao cargo de primeiro-ministro, o líder do partido de extrema direita Reunião Nacional (RN), Jordan Bardella, garantiu que nada mudará na organização dos Jogos se vencer as eleições.

"Não há razão para os Jogos correrem mal com um governo do RN", disse Guy Drut, ex-ministro francês dos Esportes e atual membro do COI. Ele lembrou que os Jogos de Munique, em 1972, continuaram apesar do ataque sangrento de um comando palestino contra a delegação israelense.

As declarações de Drut, classificadas pelo COI como opinião pessoal, suscitaram críticas da organização do Paris-2024 e da ministra do Esporte Amélie Oudéa-Castéra, que pode não estar no cargo em 26 de julho, na cerimônia de abertura.

"A dissolução em si não afeta a preparação dos jogos", declarou a ministra em entrevista à France 2 nesta quarta-feira. "Estou completamente concentrada no trabalho com todas as equipes. Estamos totalmente mobilizados, então isso não afeta a preparação. E depois, quem será eleito? Pode haver um risco para a realização dos jogos com pessoas sem experiência no governo, quando serão necessárias habilidades de liderança e comando", ponderou.

“E, mais importante, qual mensagem queremos enviar ao mundo?", acrescentou Oudéa-Castéra. "Nosso país que reinventou os jogos da era moderna, que melhor do que qualquer outro defendeu valores de universalismo, amizade entre os povos, abertura. Que imagem vamos transmitir? Uma imagem de menos universalismo, mais comunitarismo, menos abertura, mais fechamento, xenofobia, audácia ou relegação? É isso que devemos escolher hoje."

Segurança

A questão da segurança durante os Jogos fica ainda mais sensível por causa das eleições antecipadas. "Haverá muitas situações para as quais deveremos nos mobilizar se o RN vencer", reconheceu uma fonte policial, que teme por distúrbios urbanos. As manifestações pró e contra a extrema direita acontecem desde as eleições europeias e devem se intensificar nas próximas semanas em toda a França.

Uma das questões-chave que paira no ar é a respeito da segurança, principalmente em relação a atentados, isso em uma cidade traumatizada por uma onda de ataques em 2015.

“Estamos prontos. Estamos até ansiosos para que os Jogos comecem. Todos os dispositivos de segurança dos locais da cerimônia, dispositivos de luta contra a delinquência, proteção dos locais turísticos, está tudo pronto”, garantiu Laurent Nuñez, secretário de Segurança Pública, em entrevista nesta quarta-feira (26), à rádio France Inter.

“Muitos países ocidentais são alvos da propaganda, especialmente do Estado Islâmico, obviamente. E a França também é particularmente visada”, disse Nuñez. “Os Jogos Olímpicos apareceram em várias propagandas que incentivavam ações terroristas no território nacional. Então, como repetiu o ministro do Interior, estamos obviamente muito atentos a essa ameaça. Além disso, estamos em plano de alerta terrorista, com foco em atentados, e não é por acaso”, acrescentou.

Nuñez falou ainda sobre o risco de ataques cibernéticos durante os Jogos. “Esse risco é real porque nos Jogos Olímpicos anteriores houve um número impressionante de ataques”, disse. “Há certos Estados que realizam ataques cibernéticos, seja diretamente, seja usando grupos de cibercriminosos para interferência. Estamos nos preparando para isso. Todo serviço, começando pelo Ministério do Interior, pela polícia, está reforçando nossos sistemas de informação, melhorando a segurança. Há todo um trabalho que vem sendo realizado nos últimos anos para enfrentar isso.”

Sena

Outra questão em suspenso às vésperas dos Jogos é sobre a salubridade e estabilidade do rio Sena, onde estão previstas a cerimônia de abertura e provas olímpicas. A alta vazão, decorrente de uma temporada de chuvas, levou ao adiamento de um ensaio da cerimônia de abertura, que estava previsto para segunda-feira.

"Não temos condições meteorológicas muito normais há seis meses", lembrou Marc Guillaume, responsável regional de Île-de-France (Paris e arredores), destacando que o projeto de tornar o Sena propício para banhos, em prática há quase dez anos, com um investimento de € 1,4 bilhão, "não é suficiente se o clima for de outono ou inverno". O prefeito da região pretende nadar no rio Sena para dar o exemplo, "no dia em que for possível".

A prefeita de Paris, Anne Hidalgo, que adiou seu mergulho prometido e aguardado no Sena, devido ao mau tempo e às eleições legislativas antecipadas, planeja se banhar na semana do dia 15 de julho "ou na semana seguinte", a da cerimônia de abertura.

Em uma entrevista ao jornal Ouest-France nesta quarta-feira, ela se disse "muito confiante" na chegada de um clima favorável a tempo para os Jogos Olímpicos.

O suspense continua sobre a realização das provas olímpicas desde os "eventos-testes" de agosto de 2023, que tiveram que ser amplamente cancelados devido à qualidade insuficiente da água.

Em caso de chuvas intensas, água não tratada - uma mistura de chuva e esgoto - pode ser despejada no rio, um fenômeno que as obras de retenção inauguradas pouco antes dos Jogos visam impedir.

O plano "B" consiste em adiar as provas por alguns dias, mas não mudar de local, segundo o comitê organizador.

Atletismo

Já em terra firme, isto é, no Stade de France, onde vão acontecer as provas de atletismo, as preparações também seguem seu curso.

"O Stade de France está acostumado a lidar com um grande número de pessoas, então não precisamos testar isso. Precisamos realmente testar as operações do pessoal, das equipes que trabalharam muito pouco juntas, a coordenação com os juízes - temos cerca de 200 juízes. Teremos ainda 350 voluntários no estádio apenas para a parte esportiva, então é importante ver como eles se adaptam ao estádio, trabalhar com eles e ajudá-los a se sentir à vontade aqui", explica Alain Blondel, responsável pelas provas de atletismo e para-atletismo do comitê organizador.

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