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#91 Oxilab: Ciência nas crônicas de Machado

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Em “Ciência nas crônicas de Machado”, falamos sobre como o escritor Machado de Assis abordou a ciência em suas crônicas, de forma bem humorada e também crítica. A nossa entrevistada foi a Ana Flávia Cernic Ramos, que hoje é professora do Instituto de História da Universidade Federal de Uberlândia e fez seu doutorado em História Social da Cultura na Unicamp, sobre a participação do Machado na série de crônicas “Balas de Estalo”.

OSCAR XAVIER: Aos quarenta anos casou com Dona Evarista, senhora de vinte e cinco anos, viúva de um juiz de fora, e não bonita nem simpática. Um dos tios dele admirou-se de semelhante escolha e disse-lhe. Simão Bacamarte explicou-lhe que Dona Evarista reunia condições fisiológicas e anatômicas de primeira ordem, digeria com facilidade, dormia regularmente, tinha bom pulso, e excelente vista; estava assim apta para dar-lhe filhos robustos, sãos e inteligentes. Se além dessas prendas, – únicas dignas de preocupação de um sábio, Dona Evarista era mal composta de feições, longe de lastimá-lo, agradecia-o a Deus, porquanto não corria o risco de preterir os interesses da ciência na contemplação exclusiva, miúda e vulgar da consorte.

LAÍS TOLEDO: Esse é um trecho de “O alienista”, do Machado de Assis. Esse conto foi publicado, aos poucos, entre 1881 e 1882, em um jornal carioca.

THAIS OLIVEIRA: O conto narra a história de Simão Bacamarte, um médico que era interessado pelos mistérios da mente humana. Naquela época, esse tipo de médico era chamado de alienista, daí o título do conto.

LAÍS: O doutor Bacamarte vivia em função da ciência e construiu uma espécie de hospício. Lá, ele abrigava quem ele achava que era louco, para poder estudar essas pessoas. Só que chegou uma hora que quase todo mundo da cidade acabou internado. Então, o doutor Bacamarte teve que rever sua teoria sobre a loucura…

THAIS: O Machado usava muitas vezes o absurdo e o riso para provocar indagações. Isso acontece em “O Alienista”, que mostra, por exemplo, que o limite entre uma pessoa “louca” e uma “normal” não é tão claro assim. Com isso, o Machado mostra também que a ciência não é nem objetiva nem inquestionável. E essa forma crítica de retratar a ciência pode ser encontrada em seus contos, romances e também em crônicas.

LAÍS: Esse episódio do Oxigênio é sobre como o Machado de Assis tratou a ciência em suas crônicas, uma parte menos conhecida de sua obra. Para falar desse tema, entrevistamos a Ana Flávia Cernic Ramos, professora da Universidade Federal de Uberlândia.

THAIS: Ao longo de quase meio século, o Machado escreveu, sozinho ou com outras pessoas, algumas séries de crônicas. Uma delas se chamava “Balas de Estalo”. E a Ana Flávia pesquisou no seu doutorado a participação do Machado nessa série.

ANA FLÁVIA CERNIC RAMOS: Essa série foi publicada num dos maiores jornais do Rio de Janeiro, no final do século XIX. O Machado de Assis escrevia junto a outros jornalistas e literatos, e o Machado usava o pseudônimo Lélio nessa série de crônicas, que eram publicadas quase diariamente nesse jornal do Rio de Janeiro. E essa série era humorística. O Machado de Assis escolhe um personagem que explicita esse caráter humorístico, que é o Lélio, que é uma personagem tirada do teatro italiano, da Commedia dell’arte, no qual você comenta e critica e observa o mundo a partir de um viés humorístico. Rindo você critica ou aponta possíveis transformações ou reformas da sociedade.

LAÍS: Depois, a pesquisa da Ana Flávia deu origem ao livro As máscaras de Lélio – Política e humor nas crônicas de Machado de Assis (1883-1886), publicado pela Editora da Unicamp. Hoje, a nossa conversa vai ser sobre um Machado de Assis que talvez você ainda não conheça. Eu sou a Laís Toledo…

THAIS: … eu sou Thais Oliveira. E esse é o Oxilab “Machado de Assis: jornalismo, ciência e outras cousas mais…”.

THAIS: Joaquim Maria Machado de Assis nasceu em 1839 no Morro do Livramento, próximo ao centro do Rio de Janeiro. Seu pai era neto de escravos e sua mãe era portuguesa. Com 15 anos, o jovem publicou a sua primeira poesia em um jornal. E foi aí que começou sua relação com a imprensa, que durou quase até o fim da sua vida.

LAÍS: Antes de falar mais sobre os textos do Machado, é interessante ver um pouco essa imprensa. Ou melhor, como a ciência aparecia nos jornais brasileiros do século XIX. Ao longo desse século, os cientistas ganharam autonomia, prestígio e poder. O período foi marcado por uma grande euforia e por uma aposta na ciência.

THAIS: As novas teorias científicas levaram as pessoas a acreditar que todos os mistérios da natureza podiam ser resolvidos. Mas como as pessoas, além dos cientistas, sabiam sobre o que estava acontecendo no mundo da ciência?

LAÍS: Bom, na maioria dos países, a comunicação sobre ciência acontecia nos jornais diários. E no Brasil não foi diferente. Nosso primeiro jornal, a Gazeta do Rio de Janeiro, é de 1808. Desde o seu início, o jornal assumiu a missão de divulgar assuntos relacionados à ciência.

THAIS: Ah, vale comentar que, até 1808, era proibido imprimir qualquer coisa no Brasil. Aqui, a imprensa só foi liberada com a mudança da família real portuguesa para o Rio de Janeiro. Os jornais dessa época tinham textos de “homens ligados à ciência”, como médicos e engenheiros, que davam destaque para as aplicações práticas de seus estudos. Aqui no Brasil, as áreas mais exploradas eram agricultura e saúde. E não era difícil encontrar textos que relacionam a ciência a termos como “progresso”, “luzes”, “desenvolvimento”, “interesses do Brasil” e “felicidade pública”.

LAÍS: Nessa época, os jornais eram menores que os de hoje e publicavam textos científicos ao lado de peças literárias e notícias. Estava tudo no mesmo pacote.

THAIS: Um tipo de texto que começou a se popularizar nesses jornais brasileiros e que representa bem a diversidade das publicações é a crônica. Ela tem um pé no jornalismo e outro na literatura. Geralmente é leve e livre e não tem compromisso de chegar a uma conclusão.

LAÍS: A palavra “crônica” vem do grego kronos, que significa tempo, e diz respeito ao relato de acontecimentos em ordem cronológica. Mas, hoje em dia, ao falar de crônica aqui no Brasil, a gente não pensa mais em crônica histórica. A gente pensa em um comentário despretensioso sobre uma notícia do jornal ou até sobre um fato do dia-a-dia.

THAIS: Dois autores que faziam isso muito bem eram Carlos Drummond de Andrade e Clarice Lispector. Com certeza, você deve conhecer alguma crônica que eles escreveram. Quem também é fã do gênero é o Antônio Prata, um escritor do nosso tempo.

LAÍS: Mas não se engane. Mesmo que a crônica trate de temas despretensiosos e, muitas vezes, de forma engraçada, não são poucas as crônicas que abordam assuntos sérios. Muitos cronistas enxergavam esse texto como uma forma de comentar os acontecimentos e mudar a realidade do seu tempo.

THAIS: Foi nesse contexto que o Machado de Assis (Ufa! Ele voltou!) escreveu centenas de crônicas, desde os seus 20 anos até quase o fim da vida. E como a gente já disse, o Machado participou de uma série coletiva de crônicas chamada “Balas de Estalo”. Nessa série, ele abordou vários temas, e um deles foi justamente a ciência.

LAÍS: A gente pediu pra Ana Flávia, a nossa entrevistada, falar sobre a relação do Machado de Assis com a ciência nessa série de crônicas, um dos assuntos que ela pesquisou no doutorado.

ANA FLÁVIA: A gente pode dizer que o Lélio está atento ao discurso científico no final do século XIX, especialmente quando esse discurso científico ele é tido de forma bastante totalizante mesmo, como se fossem falas unânimes e sem contradição. Na verdade, ele não vai duvidar da ciência em si, mas ele vai mostrar como a ciência também era fruto de disputa, como ela também tinha o seu quinhão de subjetividade, de ponto de vista, de escolhas, de recorte. Então, nessa tentativa de problematizar um pouco os discursos científicos. Não abrindo mão deles, não desacreditando totalmente a ciência, mas trazendo a ciência pra dentro da sociedade, vendo a ciência como parte de um construto social, com seu quê de subjetividade. Com as suas contradições também. Então tirando um pouco esse caráter excessivamente positivista, que é uma marca do século XIX. Que é uma visão da ciência de forma muito totalizante mesmo. De uma objetividade excessiva, de uma neutralidade absoluta. Como se o discurso científico estivesse completamente imune aos efeitos das disputas sociais. Nos quais a ciência também estava inserida. Então, essa é uma das preocupações do Machado.

THAIS: O escritor acreditava que as teorias precisavam ser discutidas. E que o discurso científico, como qualquer discurso, não era imutável. Além disso, muitas vezes, ele tinha lacunas, contradições e até a intenção de atender a interesses particulares.

LAÍS: Por exemplo, algumas teorias estrangeiras eram usadas no Brasil para justificar desigualdades consideradas “naturais” entre os seres humanos. Assim, essas teorias serviam para legitimar a manutenção da escravidão por aqui.

ANA FLÁVIA: Vale lembrar que as últimas décadas do Império, especialmente na década de 1880, que é quando o Lélio está escrevendo “Balas de estalo” há um processo em curso, e bastante disputado, que é o da abolição da escravidão. Onde você tem uma sociedade dividida entre aqueles que são escravos e aqueles que são livres. E, uma vez tendo no horizonte que essa divisão será rompida, com o fim da escravidão, há uma insistente tentativa de hierarquizar as pessoas por outras medidas que não mais essa da fronteira entre a liberdade e a escravidão. Se precisa criar outras formas de hierarquizar aquele mundo. Então, o Machado vai ficar bastante atento a esse processo de criação de outros discursos que legitimem desigualdades.

THAIS: A Ana Flávia comentou que o Machado se incomodava especialmente quando ideias de Charles Darwin eram usadas a partir de um ponto de vista social. Ou seja, ele criticava quando ideias do Darwin, como seleção do mais adaptado, competição e evolução, não eram usadas pra explicar a evolução das espécies, mas sim pra explicar o funcionamento da sociedade e, com isso, justificar desigualdades.

LAÍS: Essa forma de usar a teoria do Darwin é o que conhecemos hoje como darwinismo social, e é um exemplo de racismo científico. De acordo com a pesquisadora entrevistada, além de questionar esse uso do discurso científico, o Machado também escrevia pra interferir na sua realidade.

ANA FLÁVIA: O Machado, alguém que lutou, como a gente pode observar por algumas crônicas da série, que estava bastante atento ao processo de abolição, um Machado que lutou e que interveio através de seus escritos literários pela liberdade no Brasil, um Machado de Assis defensor da abolição, também como seus colegas de série, esperando que a escravidão finalmente fosse finalizada, que ela se extinguisse no Brasil, preocupado com a integração desses muitos homens e mulheres, que finalmente conseguiriam sair do mundo da escravidão. Como é que eles seriam efetivamente inseridos, incluídos, num novo mundo. Já que havia também toda uma preocupação de conquista de cidadania, de ampliação de direitos. Então, como isso poderia ser obstruído de alguma forma por discursos ou teorias que criassem diferenciações outras para manter a hierarquização social.

THAIS: Antes de terminar esse episódio, tem mais um assunto que a Ana Flávia falou que foi importante pro Machado: a relação entre ciência e literatura. Ou melhor, o incômodo do escritor também com a forma como a ciência era usada pelo discurso literário.

ANA FLÁVIA: O Machado de Assis, além dos debates políticos e sociais, também está muito atento a um debate literário sobre quais são as relações possíveis entre ciência e literatura. O Machado está discutindo especialmente com autores que pretendem ou que versam sobre o Naturalismo na literatura, cujo expoente maior é o Émile Zola, na França. E é uma literatura que se pretendia moderna, científica, objetiva e que tinha entre as suas intenções estudar a sociedade ou as doenças sociais, que via muito o literato como aquele que quase reproduz fielmente, que copia o real, que espelha o real, diagnosticando os problemas daquela sociedade, os males sociais que atingem essas comunidades. E aí o Machado, de certa forma, também problematiza essa pretensão científica da literatura, de copiar o real tal qual, de diagnosticar o real como se o literato fosse alguém que estivesse fora daquela realidade, fora daquele mundo e que não tivesse ponto de vista, não tivesse a sua especificidade, o seu lugar social. Quem é o literato? De que lugar social ele fala? Qual é o seu ponto de vista?

THAIS: Bom, a gente espera ter apresentado um pouco do que o Machado falou sobre ciência em suas crônicas, seja na sua relação com questões políticas e sociais, seja na sua relação com a literatura.

LAÍS: Como a Ana Flávia disse, e vale a pena reforçar, o Machado não duvidava simplesmente da ciência em si. Ele acreditava que alguns usos de teorias científicas precisavam ser problematizados.

THAIS: Isso porque, apesar dessas teorias parecerem neutras ou objetivas, elas faziam muito mais do que apenas explicar fenômenos naturais que regem o mundo. Essas teorias tinham suas contradições, seus interesses e elas propunham formas de organizar o mundo.

LAÍS: Acho que essa visão do Machado continua muito relevante para os dias de hoje. Nós devemos ter um olhar cuidadoso para as intenções que podem não estar tão evidentes nos discursos. Principalmente, naqueles que querem parecer neutros, como o discurso científico.

THAIS: Afinal, não custa sempre lembrar que a ciência é feita por seres humanos, que têm suas características próprias, cometem erros ou até têm intenções, muitas vezes duvidosas…

LAÍS: Por isso, a gente não devia pensar como o doutor Simão Bacamarte, aquele lá do começo do episódio que achava que a ciência, com sua suposta objetividade, dava conta de todas as questões humanas. Desde explicar o limite entre loucura e razão, até explicar o porquê de um casamento por meio de características biológicas da noiva…

THAIS: Então é isso. A gente espera que vocês tenham gostado de saber mais sobre esse assunto. O roteiro e a narração do episódio foram feitos por mim, Thais Oliveira…

LAÍS: E por mim, Laís Toledo.

THAIS: Essa é uma produção do curso de Jornalismo Científico do Labjor – Unicamp, com orientação das professoras Germana Barata e Simone Pallone.

LAÍS: Os trabalhos técnicos foram feitos pelo Gustavo Campos e pelo Octávio Augusto, da rádio Unicamp.

THAIS: Você pode nos acompanhar nas redes sociais. Estamos no Facebook, (facebook.com/oxigenionoticias – tudo junto e sem acento). E no Instagram e no Twitter também, basta procurar por “Oxigênio Podcast”.

LAÍS: E você também pode deixar a sua opinião sobre este episódio e sugerir temas para os próximos programas. Basta deixar o seu comentário na plataforma de streaming que utiliza. Até a próxima!

PARA SABER MAIS…

…sobre as crônicas de Machado na série “Balas de Estalo”, confira o livro da Ana Flávia Cernic Ramos: As máscaras de Lélio: política e humor nas crônicas de Machado de Assis (1883-1886), publicado em 2016.

… sobre a imprensa e a divulgação científica nos primeiros periódicos do Brasil, confira o artigo de Maria Helena de Almeida Freitas, “Considerações acerca dos primeiros periódicos científicos brasileiros”. Ele foi publicado na revista Ciência da Informação em 2006. Disponível em: http://revista.ibict.br/ciinf/article/view/1113/1244. E também o artigo de ldeu de Castro Moreira e Luisa Massarani, “Aspectos históricos da divulgação científica no Brasil”, que foi publicado no livro Ciência e público: caminhos da divulgação científica no Brasil, em 2002.

Músicas

“Corta-Jaca”, Chiquinha Gonzaga https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/c/cf/Corta_jaca_1912.ogg

“Stetely Shadows”

“Curiously and Curiously”

Blue Dot Sessions – https://www.sessions.blue

Imagem

Divulgação da campanha “Machado de Assis Real” feita pela Faculdade Zumbi dos Palmares. Disponível em http://www.machadodeassisreal.com.br/

Arte de: Helena Ansani Nogueira

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Em “Ciência nas crônicas de Machado”, falamos sobre como o escritor Machado de Assis abordou a ciência em suas crônicas, de forma bem humorada e também crítica. A nossa entrevistada foi a Ana Flávia Cernic Ramos, que hoje é professora do Instituto de História da Universidade Federal de Uberlândia e fez seu doutorado em História Social da Cultura na Unicamp, sobre a participação do Machado na série de crônicas “Balas de Estalo”.

OSCAR XAVIER: Aos quarenta anos casou com Dona Evarista, senhora de vinte e cinco anos, viúva de um juiz de fora, e não bonita nem simpática. Um dos tios dele admirou-se de semelhante escolha e disse-lhe. Simão Bacamarte explicou-lhe que Dona Evarista reunia condições fisiológicas e anatômicas de primeira ordem, digeria com facilidade, dormia regularmente, tinha bom pulso, e excelente vista; estava assim apta para dar-lhe filhos robustos, sãos e inteligentes. Se além dessas prendas, – únicas dignas de preocupação de um sábio, Dona Evarista era mal composta de feições, longe de lastimá-lo, agradecia-o a Deus, porquanto não corria o risco de preterir os interesses da ciência na contemplação exclusiva, miúda e vulgar da consorte.

LAÍS TOLEDO: Esse é um trecho de “O alienista”, do Machado de Assis. Esse conto foi publicado, aos poucos, entre 1881 e 1882, em um jornal carioca.

THAIS OLIVEIRA: O conto narra a história de Simão Bacamarte, um médico que era interessado pelos mistérios da mente humana. Naquela época, esse tipo de médico era chamado de alienista, daí o título do conto.

LAÍS: O doutor Bacamarte vivia em função da ciência e construiu uma espécie de hospício. Lá, ele abrigava quem ele achava que era louco, para poder estudar essas pessoas. Só que chegou uma hora que quase todo mundo da cidade acabou internado. Então, o doutor Bacamarte teve que rever sua teoria sobre a loucura…

THAIS: O Machado usava muitas vezes o absurdo e o riso para provocar indagações. Isso acontece em “O Alienista”, que mostra, por exemplo, que o limite entre uma pessoa “louca” e uma “normal” não é tão claro assim. Com isso, o Machado mostra também que a ciência não é nem objetiva nem inquestionável. E essa forma crítica de retratar a ciência pode ser encontrada em seus contos, romances e também em crônicas.

LAÍS: Esse episódio do Oxigênio é sobre como o Machado de Assis tratou a ciência em suas crônicas, uma parte menos conhecida de sua obra. Para falar desse tema, entrevistamos a Ana Flávia Cernic Ramos, professora da Universidade Federal de Uberlândia.

THAIS: Ao longo de quase meio século, o Machado escreveu, sozinho ou com outras pessoas, algumas séries de crônicas. Uma delas se chamava “Balas de Estalo”. E a Ana Flávia pesquisou no seu doutorado a participação do Machado nessa série.

ANA FLÁVIA CERNIC RAMOS: Essa série foi publicada num dos maiores jornais do Rio de Janeiro, no final do século XIX. O Machado de Assis escrevia junto a outros jornalistas e literatos, e o Machado usava o pseudônimo Lélio nessa série de crônicas, que eram publicadas quase diariamente nesse jornal do Rio de Janeiro. E essa série era humorística. O Machado de Assis escolhe um personagem que explicita esse caráter humorístico, que é o Lélio, que é uma personagem tirada do teatro italiano, da Commedia dell’arte, no qual você comenta e critica e observa o mundo a partir de um viés humorístico. Rindo você critica ou aponta possíveis transformações ou reformas da sociedade.

LAÍS: Depois, a pesquisa da Ana Flávia deu origem ao livro As máscaras de Lélio – Política e humor nas crônicas de Machado de Assis (1883-1886), publicado pela Editora da Unicamp. Hoje, a nossa conversa vai ser sobre um Machado de Assis que talvez você ainda não conheça. Eu sou a Laís Toledo…

THAIS: … eu sou Thais Oliveira. E esse é o Oxilab “Machado de Assis: jornalismo, ciência e outras cousas mais…”.

THAIS: Joaquim Maria Machado de Assis nasceu em 1839 no Morro do Livramento, próximo ao centro do Rio de Janeiro. Seu pai era neto de escravos e sua mãe era portuguesa. Com 15 anos, o jovem publicou a sua primeira poesia em um jornal. E foi aí que começou sua relação com a imprensa, que durou quase até o fim da sua vida.

LAÍS: Antes de falar mais sobre os textos do Machado, é interessante ver um pouco essa imprensa. Ou melhor, como a ciência aparecia nos jornais brasileiros do século XIX. Ao longo desse século, os cientistas ganharam autonomia, prestígio e poder. O período foi marcado por uma grande euforia e por uma aposta na ciência.

THAIS: As novas teorias científicas levaram as pessoas a acreditar que todos os mistérios da natureza podiam ser resolvidos. Mas como as pessoas, além dos cientistas, sabiam sobre o que estava acontecendo no mundo da ciência?

LAÍS: Bom, na maioria dos países, a comunicação sobre ciência acontecia nos jornais diários. E no Brasil não foi diferente. Nosso primeiro jornal, a Gazeta do Rio de Janeiro, é de 1808. Desde o seu início, o jornal assumiu a missão de divulgar assuntos relacionados à ciência.

THAIS: Ah, vale comentar que, até 1808, era proibido imprimir qualquer coisa no Brasil. Aqui, a imprensa só foi liberada com a mudança da família real portuguesa para o Rio de Janeiro. Os jornais dessa época tinham textos de “homens ligados à ciência”, como médicos e engenheiros, que davam destaque para as aplicações práticas de seus estudos. Aqui no Brasil, as áreas mais exploradas eram agricultura e saúde. E não era difícil encontrar textos que relacionam a ciência a termos como “progresso”, “luzes”, “desenvolvimento”, “interesses do Brasil” e “felicidade pública”.

LAÍS: Nessa época, os jornais eram menores que os de hoje e publicavam textos científicos ao lado de peças literárias e notícias. Estava tudo no mesmo pacote.

THAIS: Um tipo de texto que começou a se popularizar nesses jornais brasileiros e que representa bem a diversidade das publicações é a crônica. Ela tem um pé no jornalismo e outro na literatura. Geralmente é leve e livre e não tem compromisso de chegar a uma conclusão.

LAÍS: A palavra “crônica” vem do grego kronos, que significa tempo, e diz respeito ao relato de acontecimentos em ordem cronológica. Mas, hoje em dia, ao falar de crônica aqui no Brasil, a gente não pensa mais em crônica histórica. A gente pensa em um comentário despretensioso sobre uma notícia do jornal ou até sobre um fato do dia-a-dia.

THAIS: Dois autores que faziam isso muito bem eram Carlos Drummond de Andrade e Clarice Lispector. Com certeza, você deve conhecer alguma crônica que eles escreveram. Quem também é fã do gênero é o Antônio Prata, um escritor do nosso tempo.

LAÍS: Mas não se engane. Mesmo que a crônica trate de temas despretensiosos e, muitas vezes, de forma engraçada, não são poucas as crônicas que abordam assuntos sérios. Muitos cronistas enxergavam esse texto como uma forma de comentar os acontecimentos e mudar a realidade do seu tempo.

THAIS: Foi nesse contexto que o Machado de Assis (Ufa! Ele voltou!) escreveu centenas de crônicas, desde os seus 20 anos até quase o fim da vida. E como a gente já disse, o Machado participou de uma série coletiva de crônicas chamada “Balas de Estalo”. Nessa série, ele abordou vários temas, e um deles foi justamente a ciência.

LAÍS: A gente pediu pra Ana Flávia, a nossa entrevistada, falar sobre a relação do Machado de Assis com a ciência nessa série de crônicas, um dos assuntos que ela pesquisou no doutorado.

ANA FLÁVIA: A gente pode dizer que o Lélio está atento ao discurso científico no final do século XIX, especialmente quando esse discurso científico ele é tido de forma bastante totalizante mesmo, como se fossem falas unânimes e sem contradição. Na verdade, ele não vai duvidar da ciência em si, mas ele vai mostrar como a ciência também era fruto de disputa, como ela também tinha o seu quinhão de subjetividade, de ponto de vista, de escolhas, de recorte. Então, nessa tentativa de problematizar um pouco os discursos científicos. Não abrindo mão deles, não desacreditando totalmente a ciência, mas trazendo a ciência pra dentro da sociedade, vendo a ciência como parte de um construto social, com seu quê de subjetividade. Com as suas contradições também. Então tirando um pouco esse caráter excessivamente positivista, que é uma marca do século XIX. Que é uma visão da ciência de forma muito totalizante mesmo. De uma objetividade excessiva, de uma neutralidade absoluta. Como se o discurso científico estivesse completamente imune aos efeitos das disputas sociais. Nos quais a ciência também estava inserida. Então, essa é uma das preocupações do Machado.

THAIS: O escritor acreditava que as teorias precisavam ser discutidas. E que o discurso científico, como qualquer discurso, não era imutável. Além disso, muitas vezes, ele tinha lacunas, contradições e até a intenção de atender a interesses particulares.

LAÍS: Por exemplo, algumas teorias estrangeiras eram usadas no Brasil para justificar desigualdades consideradas “naturais” entre os seres humanos. Assim, essas teorias serviam para legitimar a manutenção da escravidão por aqui.

ANA FLÁVIA: Vale lembrar que as últimas décadas do Império, especialmente na década de 1880, que é quando o Lélio está escrevendo “Balas de estalo” há um processo em curso, e bastante disputado, que é o da abolição da escravidão. Onde você tem uma sociedade dividida entre aqueles que são escravos e aqueles que são livres. E, uma vez tendo no horizonte que essa divisão será rompida, com o fim da escravidão, há uma insistente tentativa de hierarquizar as pessoas por outras medidas que não mais essa da fronteira entre a liberdade e a escravidão. Se precisa criar outras formas de hierarquizar aquele mundo. Então, o Machado vai ficar bastante atento a esse processo de criação de outros discursos que legitimem desigualdades.

THAIS: A Ana Flávia comentou que o Machado se incomodava especialmente quando ideias de Charles Darwin eram usadas a partir de um ponto de vista social. Ou seja, ele criticava quando ideias do Darwin, como seleção do mais adaptado, competição e evolução, não eram usadas pra explicar a evolução das espécies, mas sim pra explicar o funcionamento da sociedade e, com isso, justificar desigualdades.

LAÍS: Essa forma de usar a teoria do Darwin é o que conhecemos hoje como darwinismo social, e é um exemplo de racismo científico. De acordo com a pesquisadora entrevistada, além de questionar esse uso do discurso científico, o Machado também escrevia pra interferir na sua realidade.

ANA FLÁVIA: O Machado, alguém que lutou, como a gente pode observar por algumas crônicas da série, que estava bastante atento ao processo de abolição, um Machado que lutou e que interveio através de seus escritos literários pela liberdade no Brasil, um Machado de Assis defensor da abolição, também como seus colegas de série, esperando que a escravidão finalmente fosse finalizada, que ela se extinguisse no Brasil, preocupado com a integração desses muitos homens e mulheres, que finalmente conseguiriam sair do mundo da escravidão. Como é que eles seriam efetivamente inseridos, incluídos, num novo mundo. Já que havia também toda uma preocupação de conquista de cidadania, de ampliação de direitos. Então, como isso poderia ser obstruído de alguma forma por discursos ou teorias que criassem diferenciações outras para manter a hierarquização social.

THAIS: Antes de terminar esse episódio, tem mais um assunto que a Ana Flávia falou que foi importante pro Machado: a relação entre ciência e literatura. Ou melhor, o incômodo do escritor também com a forma como a ciência era usada pelo discurso literário.

ANA FLÁVIA: O Machado de Assis, além dos debates políticos e sociais, também está muito atento a um debate literário sobre quais são as relações possíveis entre ciência e literatura. O Machado está discutindo especialmente com autores que pretendem ou que versam sobre o Naturalismo na literatura, cujo expoente maior é o Émile Zola, na França. E é uma literatura que se pretendia moderna, científica, objetiva e que tinha entre as suas intenções estudar a sociedade ou as doenças sociais, que via muito o literato como aquele que quase reproduz fielmente, que copia o real, que espelha o real, diagnosticando os problemas daquela sociedade, os males sociais que atingem essas comunidades. E aí o Machado, de certa forma, também problematiza essa pretensão científica da literatura, de copiar o real tal qual, de diagnosticar o real como se o literato fosse alguém que estivesse fora daquela realidade, fora daquele mundo e que não tivesse ponto de vista, não tivesse a sua especificidade, o seu lugar social. Quem é o literato? De que lugar social ele fala? Qual é o seu ponto de vista?

THAIS: Bom, a gente espera ter apresentado um pouco do que o Machado falou sobre ciência em suas crônicas, seja na sua relação com questões políticas e sociais, seja na sua relação com a literatura.

LAÍS: Como a Ana Flávia disse, e vale a pena reforçar, o Machado não duvidava simplesmente da ciência em si. Ele acreditava que alguns usos de teorias científicas precisavam ser problematizados.

THAIS: Isso porque, apesar dessas teorias parecerem neutras ou objetivas, elas faziam muito mais do que apenas explicar fenômenos naturais que regem o mundo. Essas teorias tinham suas contradições, seus interesses e elas propunham formas de organizar o mundo.

LAÍS: Acho que essa visão do Machado continua muito relevante para os dias de hoje. Nós devemos ter um olhar cuidadoso para as intenções que podem não estar tão evidentes nos discursos. Principalmente, naqueles que querem parecer neutros, como o discurso científico.

THAIS: Afinal, não custa sempre lembrar que a ciência é feita por seres humanos, que têm suas características próprias, cometem erros ou até têm intenções, muitas vezes duvidosas…

LAÍS: Por isso, a gente não devia pensar como o doutor Simão Bacamarte, aquele lá do começo do episódio que achava que a ciência, com sua suposta objetividade, dava conta de todas as questões humanas. Desde explicar o limite entre loucura e razão, até explicar o porquê de um casamento por meio de características biológicas da noiva…

THAIS: Então é isso. A gente espera que vocês tenham gostado de saber mais sobre esse assunto. O roteiro e a narração do episódio foram feitos por mim, Thais Oliveira…

LAÍS: E por mim, Laís Toledo.

THAIS: Essa é uma produção do curso de Jornalismo Científico do Labjor – Unicamp, com orientação das professoras Germana Barata e Simone Pallone.

LAÍS: Os trabalhos técnicos foram feitos pelo Gustavo Campos e pelo Octávio Augusto, da rádio Unicamp.

THAIS: Você pode nos acompanhar nas redes sociais. Estamos no Facebook, (facebook.com/oxigenionoticias – tudo junto e sem acento). E no Instagram e no Twitter também, basta procurar por “Oxigênio Podcast”.

LAÍS: E você também pode deixar a sua opinião sobre este episódio e sugerir temas para os próximos programas. Basta deixar o seu comentário na plataforma de streaming que utiliza. Até a próxima!

PARA SABER MAIS…

…sobre as crônicas de Machado na série “Balas de Estalo”, confira o livro da Ana Flávia Cernic Ramos: As máscaras de Lélio: política e humor nas crônicas de Machado de Assis (1883-1886), publicado em 2016.

… sobre a imprensa e a divulgação científica nos primeiros periódicos do Brasil, confira o artigo de Maria Helena de Almeida Freitas, “Considerações acerca dos primeiros periódicos científicos brasileiros”. Ele foi publicado na revista Ciência da Informação em 2006. Disponível em: http://revista.ibict.br/ciinf/article/view/1113/1244. E também o artigo de ldeu de Castro Moreira e Luisa Massarani, “Aspectos históricos da divulgação científica no Brasil”, que foi publicado no livro Ciência e público: caminhos da divulgação científica no Brasil, em 2002.

Músicas

“Corta-Jaca”, Chiquinha Gonzaga https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/c/cf/Corta_jaca_1912.ogg

“Stetely Shadows”

“Curiously and Curiously”

Blue Dot Sessions – https://www.sessions.blue

Imagem

Divulgação da campanha “Machado de Assis Real” feita pela Faculdade Zumbi dos Palmares. Disponível em http://www.machadodeassisreal.com.br/

Arte de: Helena Ansani Nogueira

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